(for tape)

El reloj del viento (1998) (for tape)

Sílvio Ferraz

Laboratório de Linguagens Sonoras - Comunicação e Semiótica - PUC-SP
Brazil

Abstract:

Recentemente me deparei com uma escultura de Juan Miró intitulada "El reloj del viento": uma caixa de madeira com uma colher espetada fundidas em bronze. Imaginei esse dispositivo como um mecanismo que marcaria o tempo de acordo com a velocidade e intensidade do vento batendo na colher; um vai e vem bastante irregular. E esta foi a idéia que acabou guiando esta peça que de certa forma tem a obra de Miró sempre em mente: uma seqüência rítmica irregular sobre a qual diversas transformações sonoras seriam realizadas Mas Miró não aparece nesta peça apenas na idéia do relógio. Sempre me interessou o modo como realizava seus quadros: deixava diversas telas espalhadas pelo ateliê e de tempo em tempo as manchava limpando os pincéis ou com uma pincelada qualquer, até que um dia uma daquelas telas despontava como um possível quadro. esse processo que Miró cita em diversas de suas entrevistas é que foi usado para compor "El Reloj del Viento". Como as telas de Miró, uma seqüência de sons de tamtam foi gravada e espalhada em diversas possíveis peças, e a cada dia uma ou outras dessas peças eram escutadas e trabalhadas basicamente por deformações da seqüência original, por acréscimo de outros sons ou ainda pelo cruzamento entre esses sons. Até que um dia diversas delas começaram a convergir resultando naquilo que seria o mapa rítmico da peça...mapa esse que vale dizer que foi totalmente destruído não aparecendo no resultado final da peça. Três softwares específicos foram usados na composição dessa peça: AudioSculpt e os ambientes de programação por objetos Patchwork e MAX. Todos os sons utilizados na composição decorrem de transformações realizadas a partir de filtros que foram gerados em programas realizados em Patchwork. Neste caso o software foi utilizado para criar programas que geram arquivos de texto seguindo o protocolo dos filtros, síntese cruzada e outros procedimentos (time stretch, transposições e granulação de sons) habilitados nas versões mais recentes do software de análise, tratamento e síntese AudioSculpt desenvolvido pelo IRCAM. Fundamentalmente, este uso do Patchwork permitiu criar uma estrutura que seguia padrões da composição instrumental, permitindo pensar em campos harmônicos (estruturas harmônicas) e em estruturas rítmicas, os quais serviram como um mapa para a composição da peça. Vale lembrar que todas essas estruturas decorreram da análise espectral e rítmica dos três principais arquivos de som utilizados na peça: uma seqüência de sons de tamtam, trechos de uma conferência e uma seqüência de sons decorrentes de um cinzeiro de barro raspado com uma flauta indígena. Associado a esses dois softwares, foram também realizados dois programas em ambiente MAX: uma espécie de um granulador de sons (disparando arquivos em aiff) e um outro que disparava diversos samples a partir de arquivos MIDI criados com auxílio de Patchwork. Porém, para evitar a característica repetitiva do sons disparados via MIDI, o resultado deste processo também foi filtrado posteriormente em AudioSculpt.